Recomendo para este fim de semana


Água retrata os acontecimentos vividos em 1938, época em que a Índia sofria e vivia uma grande viragem na sua história. Ainda sob o domínio dos ingleses, este país deparava-se com a chegada de Ghandi, uma personagem que viria a abalar o destino da nação. Porém, no seio destas questões fulcrais, Água não se demora nestes assuntos grandiosos, optando por mostrar ao espectador a realidade que vingava nos bastidores da mudança: a vida de um povo, os seus costumes profundamente enraizados e, principalmente, a vida das viúvas indianas.

Chuyia (Sarala Kariyawasam), uma menina de sete anos, fica viúva, mesmo antes de ter tido oportunidade de conhecer o marido e saber o significado da palavra “casamento”. Devido a este acontecimento, a menina é obrigada a viver numa residência de viúvas, onde todas as mulheres usam vestes brancas e rapam o cabelo, prontificando-se a viver uma existência pautada pela miséria, sofrimento e dor, como assim é requerido a todas as viúvas indianas, de acordo com os textos sagrados. Inicialmente, Chuyia apresenta grandes dificuldades na adaptação a esta nova realidade, mas a sua vida melhora um pouco depois de conhecer Kalyani (Lisa Ray), uma viúva que trabalha como prostituta para assegurar a sobrevivência de todas as outras companheiras. E a vida das duas mudará quando conhecem Narayan (John Abraham), um jovem proveniente de uma casta alta que se apaixona por Kalyani.
A grande beleza de Água reside em dois aspectos fundamentais. Em primeiro lugar, é um filme marcado por imagem belíssimas. A fotografia do mesmo é estonteante, não se resumindo apenas à existência de paisagens de cortar a respiração, mas também (e sobretudo) devido às próprias expressões exibidas pelas várias personagens, bem como os retratos do quotidiano que nos vão sendo apresentados. Assim sendo, é de destacar o próprio desempenho dos actores, os quais retratam bastante bem o sofrimento e tristeza inerentes ao enredo. Apesar da tenra idade, Sarala Kariyawasam demonstrou ser uma actriz à altura do exigido, tendo tido, em diversas alturas, um excelente desempenho.


Há também a destacar a grandiosidade da banda sonora, a qual foi composta por A. R. Rahman (o qual participou também em Quem Quer Ser Bilionário) e Mychael Danna (que ganhou o Óscar de Melhor Banda Sonora Original pelo filme A Vida de Pi). Se existem cenas marcadas por uma grande emotividade, é certo que a qualidade inegável das músicas que as acompanham é fundamental para exercer um poder marcante sobre elas. Os temas instrumentais são absolutamente belíssimos, bem como as restantes composições que acompanham este filme.
A simplicidade do enredo é, no entanto, dotada de uma grande importância, sendo capaz de tocar o espectador. Não se resume unicamente a uma história de amor, pois Água consegue ultrapassar largamente essa questão. A vida de todas as viúvas indianas, em destaque para a de Chuyia e Kalyani, tocará a maioria. Ao longo dos seus 117 minutos, o enredo vai-se gradualmente consolidando, atingindo o seu auge já perto do fim, levando o espectador a emocionar-se, talvez da forma que menos espera, obrigando-o a uma reflexão final profunda e introspectiva.

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Cecília Gaspar