Chuyia (Sarala Kariyawasam), uma menina
de sete anos, fica viúva, mesmo antes de ter tido oportunidade de
conhecer o marido e saber o significado da palavra “casamento”. Devido a
este acontecimento, a menina é obrigada a viver numa residência de
viúvas, onde todas as mulheres usam vestes brancas e rapam o cabelo,
prontificando-se a viver uma existência pautada pela miséria, sofrimento
e dor, como assim é requerido a todas as viúvas indianas, de acordo com
os textos sagrados. Inicialmente, Chuyia apresenta grandes dificuldades
na adaptação a esta nova realidade, mas a sua vida melhora um pouco
depois de conhecer Kalyani (Lisa Ray), uma viúva que trabalha como
prostituta para assegurar a sobrevivência de todas as outras
companheiras. E a vida das duas mudará quando conhecem Narayan (John
Abraham), um jovem proveniente de uma casta alta que se apaixona por
Kalyani.
A grande beleza de Água reside
em dois aspectos fundamentais. Em primeiro lugar, é um filme marcado por
imagem belíssimas. A fotografia do mesmo é estonteante, não se
resumindo apenas à existência de paisagens de cortar a respiração, mas
também (e sobretudo) devido às próprias expressões exibidas pelas várias
personagens, bem como os retratos do quotidiano que nos vão sendo
apresentados. Assim sendo, é de destacar o próprio desempenho dos
actores, os quais retratam bastante bem o sofrimento e tristeza
inerentes ao enredo. Apesar da tenra idade, Sarala Kariyawasam
demonstrou ser uma actriz à altura do exigido, tendo tido, em diversas
alturas, um excelente desempenho.
Há também a destacar a grandiosidade da banda sonora, a qual foi composta por A. R. Rahman (o qual participou também em Quem Quer Ser Bilionário) e Mychael Danna (que ganhou o Óscar de Melhor Banda Sonora Original pelo filme A Vida de Pi).
Se existem cenas marcadas por uma grande emotividade, é certo que a
qualidade inegável das músicas que as acompanham é fundamental para
exercer um poder marcante sobre elas. Os temas instrumentais são
absolutamente belíssimos, bem como as restantes composições que
acompanham este filme.
A simplicidade do enredo é, no entanto,
dotada de uma grande importância, sendo capaz de tocar o espectador. Não
se resume unicamente a uma história de amor, pois Água
consegue ultrapassar largamente essa questão. A vida de todas as viúvas
indianas, em destaque para a de Chuyia e Kalyani, tocará a maioria. Ao
longo dos seus 117 minutos, o enredo vai-se gradualmente consolidando,
atingindo o seu auge já perto do fim, levando o espectador a
emocionar-se, talvez da forma que menos espera, obrigando-o a uma
reflexão final profunda e introspectiva.
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Cecília Gaspar